A intolerância vem de todos os
lados e faz com que não percebamos que o que queremos é apenas chegar ao mesmo
objetivo. Na verdade, não existe lado certo ou errado. Todas as direções
levarão a um lugar comum, onde todos querem chegar - à evolução material, emocional e espiritual do ser humano. Essa conjectura se deve à
imensidão de duelos nas mídias entre esquerda e direita. “Esquerdista” agora é
palavra non grata, devido ao fracasso do Partido dos Trabalhadores, que gerou a
prisão de seu maior líder. Antigamente, numa visão simplória minha, eu sei,
achava que se eu concordasse com as práticas governamentais vigentes, eu seria
da direita, e se eu fosse contra, eu seria da esquerda. Ao longo dos anos e de
pesquisa, percebi que há várias conotações para a palavra “direita” e
“esquerda”. “Direita”, muitas vezes demonstra tom positivo, como se fosse o “certinho”
da história; afinal, na história, Jesus sentou-se à direita do Pai. No nosso
corpo, usamos mais o lado direito... “Esquerda” já tem um tom mais negativo,
transgressor, contestador, de luta e a favor das classes menos favorecidas. Fazendo
uma viagem no tempo para entender melhor, antes da Revolução Francesa, as
classes sociais se dividiam em nobreza, clero e burguesia e na Assembleia para
instituir a Constituição francesa, houve a partição. A burguesia queria
diminuir o poder da nobreza e do clero, mas não queria se misturar aos pobres –
os trabalhadores, então, escolheu sentar-se à direita do Presidente da
Assembleia, a favor do rei e da igreja. Eram conservadores e tradicionalistas.
Os que se sentaram à esquerda queriam uma mudança radical, o fim da monarquia e
maior poder para o povo, daí a relação com a luta dos trabalhadores. Nos dias
atuais, fazendo uma analogia, temos: a nobreza (presidente da república), o
clero (bancada evangélica) e a burguesia (empresariado), e muitos outros
fatores foram associados às designações “esquerda” e “direita” o que gerou a
guerra que vemos hoje nas mídias sociais. Direitistas acusam os esquerdistas de
destruírem a família tradicional, negarem a igreja e causarem o declínio moral
da sociedade, seguindo as ideias Marxistas e de Engels. O que não consigo
entender é como a política pode influenciar na moralidade de um homem que trai a mulher, ou espanca, ou estupra ou abandona seus filhos, ou mesmo de uma mulher que abandona a família. Hoje,
estamos vivendo em um mundo violento, em que as pessoas não têm o menor despudor
de matar por dinheiro e poder ou para conquistar território. As pessoas querem
facilidades, a materialidade, possuir as coisas sem importar como consegui-las,
nem que tenha de arrancar a cabeça do irmão. Creio que tudo isso é mais um problema
de caráter e alma do que político.
Não culpo as pessoas desesperadas e que se
iludem por um discurso diferente de tudo que já vimos e que não deu certo,
porém, o endeusamento de determinados candidatos, o número crescente de cabos
eleitorais gratuitos têm assustado muito com postagens agressivas, repetitivas,
absurdas e algumas falsas, deturpadas e manipuladas para ludibriar aquele que
não quer votar. De repente as mídias sociais se transformaram em um ringue de
luta livre, em que “girondinos” e “jacobinos”, leiam-se direitistas e esquerdistas
despejam frases de efeitos, grosseiras, ofensivas, espinhosas, inclusive
maculando amizades. A intolerância é mostrada como um tsunami, revelando o lado
negro dos brasileiros: racistas, homofóbicos, machistas, xenófobos e os mesmos
que clamam Deus e dizem que vão orar por seu candidato, comemoram a morte de
inocentes, declaram ódio a imigrantes desesperados, famintos e ansiosos por uma
oportunidade de sobrevivência. Estou assustada, realmente. Essas pessoas que demonstram
tanto ódio e rancor são as mesmas que querem pegar em armas para combater a
violência e quando lembramos que durante a ditadura, grupos pegaram em armas
para lutar contra o autoritarismo, a censura e a truculência, eles gritam: “esquerdistas,
comunistas, socialistas”. O que percebo é que todos estão com muita raiva,
revolta, desesperançados e com isso, a mente fica aberta a quaisquer
oportunistas com discursos inflamados que prometem justiça, ordem e combate a
todos os males que sufocam o brasileiro. Só o que nós, brasileiros, precisamos
é que aquele que colocar a faixa presidencial seja um homem íntegro,
competente, que faça a Constituição funcionar, que não deixe o nosso país
definhar, que, embora haja contradições, encontre meios não danosos de combater
a violência; que não se deixe levar pela luxúria que o poder desperta, que
trabalhe para o povo, que seja realmente um líder para nossa nação. Difícil? Eu
sei, mas não impossível. No mais, todos queremos boas mudanças; mas, vale
lembrar que a mudança começa em nós, na nossa consciência e na nossa alma.
Sejamos mais tolerantes, mais ouvintes, saibamos dialogar e façamos dos debates
uma dialética, tais quais os filósofos faziam para aprimorar as ideias.
Por: Denise Constantino