Ontem assisti ao último capítulo da super série
global Os Dias Eram Assim. Chorei horrores. Pela cena de Renato e Alice,
grisalhos, declarando amor eterno ao som de “Nossa Canção”, de Roberto Carlos;
pelo regozijo e felicidade alcançados a duras penas pela família de Vera
(Cássia Kiss); pela morte de Nanda (Júlia Dalávia); enfim... Os críticos dizem
que a série não foi grande coisa, apesar de maior audiência comparada às outras
exibidas no mesmo horário; que teve muitos clichês; que foi muito didática...
Não importa. Acho que o didatismo histórico teve bom caimento para conhecermos
ou relembrarmos aqueles momentos sombrios da ditadura. Mas, minha intenção não
é criticar positiva ou negativamente a série, e sim divagar sobre a trilha
sonora, maravilhosa. Fez-me lembrar de minha juventude embalada ao som de
Legião Urbana, Marina Lima, Secos & Molhados, Chico Buarque, Elis Regina e
outros. Arrepiava-me toda quando ouvia os primeiros acordes de “Eu Não Sei
Dançar” e “Sangue Latino”. Ai!
Na verdade, o ponto que quero
mencionar, relacionado à trilha sonora é o mote das letras compostas naquela
época, de revolução, de luta e contrariedade ao governo vigente, ditatorial e
arbitrário. Letras que eram uma manifestação velada, porém irônica e debochada
dos artistas. Agora façam um paralelo com os dias atuais. Não consigo entender
por que tanto silêncio. Até mesmo os artistas se calaram. As músicas já não são
mais as mesmas. Não há músicas de engajamento, de repúdio, de protesto; não há
participação política. E olha que naquela época o medo reinava e mesmo assim
não calou as vozes artísticas. Será esse silêncio o responsável pela
disseminação da pobreza das letras que povoam as mentes de hoje? O
conteúdo crítico e subversivo deu lugar à erotização e à apologia ao vício,
cujas letras são fáceis de decorar e são mastigadas como chiclete. A razão
disso é a falta de artistas de qualidade, que escrevam boas letras ou os
ouvidos ficaram menos exigentes e deram uma guinada, alavancando o botão do
ritmo balançante erótico, não importando a letra banal e carente de conteúdo?
Eu não tenho a resposta, talvez esse assunto renda várias teses. Precisa ser
estudado. Sim, eu sei que o tempo passou, que as pessoas são outras, mas a
ordem certa das coisas não é com o passar do tempo haver evolução? Revolução? Bem,
o que consigo enxergar é apenas retrocesso. Em todos os sentidos. Que o Cosmos nos ajude.