segunda-feira, 29 de agosto de 2016

OS SERES ÍNDIGOS

Elas estão em todas as partes do planeta e apresentam determinadas características consideradas especiais. Sua estrutura cerebral se difere devido à utilização simultânea do hemisfério esquerdo e direito, sendo o direito o de maior atividade. O número delas no planeta vem aumentando desde os anos 80, e muitos deles já estão adultos e idosos.
São intuitivas, inteligentes, sensitivas, e possuem grande facilidade para compreender a justiça divina. São criativas e perceptivas e têm uma ótima memória, podendo divagar sobre vidas passadas com muita naturalidade. Também tendem a ser hiperativas, porém, nem todas as crianças hiperativas são índigos e vice-versa. São provas de uma evolução da consciência humana. Pacificadoras por natureza, almas velhas e sábias, uma grandiosa esperança para o futuro do planeta. Associam os pensamentos á ação como meta de vida. Trabalham a mudança de si para o próximo, diminuindo assim, o egoísmo, inveja e exclusões.
A FAMÍLIA é a “pedra fundamental” onde tudo deve começar, sendo imprescindível haver relações verdadeiras e muita negociação, gerando assim, autenticidade, transparência e maior confiança nos inter-relacionamentos. Nas ESCOLAS, é preciso uma nova filosofia para uma adaptação aos interesses dessas crianças. É preciso ensiná-los como pensar e não o que pensar. Passar sabedoria ao invés de conhecimento. É extremamente difícil para essas crianças permanecerem em um sistema em que elas não sentem autenticidade. As escolas devem colaborar e os pais educarem. É necessária uma profunda revisão nos objetivos e limites da educação escolar, para que se possa adaptar aos potenciais dessas crianças. São embaixadoras da paz, precursores da fraternidade. Precisam ser lapidados para uma paz nunca antes vislumbrada na história do planeta. Sua razão maior é introduzir na humanidade a honestidade, cooperação e amor. Diante de tudo isso, nossas habilidades telepáticas naturais serão restabelecidas, mentir será impossível. Segundo alguns autores, as crianças índigo são assim chamadas porque são iluminadas por uma aura azul-índigo, que estaria associada à mente (chacra frontal) e à espiritualidade (aura de cor índigo). De acordo com as características de cada uma, são assim divididas:

As humanistas: Articuladores das massas. São facilmente reconhecidos por terem facilidade em fazer amizades.
Conceituais: Conhecedores e intelectuais. Estão mais envolvidos com projetos do que com pessoas.
Os Artistas: Sensíveis e intuitivos, são muito criativos.
Interdimensionais: Têm sempre novas filosofias e espiritualidade incomum.

CARACTERÍSTICAS QUE AJUDAM A IDENTIFICAR UMA CRIANÇA ÍNDIGO:

São sensitivos, tendo ouvidos e olhos para detectar o “impossível”;
São sensíveis à música, á pintura, paisagens grandiosas e á beleza em geral;
Vêm o mundo com sentimentos de realeza;
Têm excesso de energia;
Transparecem ser anti-sociais;
Fácil distração ou baixa concentração;
Necessitam emocionalmente de estabilidade e segurança de adultos em volta delas;
Não toleram autoridade;
Têm dificuldades no aprendizado tradicional, necessitando de atenção especial;
Frustram-se facilmente;
Têm dificuldades de memorizar mecanicamente;
São inquietos. Ficam sentados e envolvidos apenas quando o assunto é de seu interesse;
São muito compassivos, tendo muitos medos, como o da morte;
Devido a decepções ou falhas, podem desenvolver bloqueios;
Estão sempre preocupados com guerras, fome, problemas ambientais e animais maltratados e abandonados;
Interessam-se por história, religião e arte;
São abertos e honestos;
Ao encontrarem-se no marasmo, fazem-se arrogantes, porque sentem necessidade de novos desafios e limites;
São extrovertidos; originais; determinados; tenazes.

Quando adultos podem se tornar sensíveis à eletricidade. São expressivos sexualmente, mas podem em outros momentos, recusar a sexualidade por aborrecimento ou para manter um elo maior com a espiritualidade. Podem optar por relacionamentos sexuais diferentes. Ao alcançar o equilíbrio, transformam-se em indivíduos realizados, fortes e felizes.

A necessidade de nobres valores faz surgir mudanças há muito tempo esperadas no planeta. É preciso regenerá-lo, transformando-o em um mundo melhor, por isso os seres índigos estão entre nós, para ajudarem a despertar essa necessidade.
Fontes de pesquisa:
www.flordavida.com.br
www.casa-indigo.com
Revista Espírita Além da Vida

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

QUANDO COMEÇARAM A ME CHAMAR DE SENHORA...

Quando começaram a me chamar de senhora, assustei-me. Não me senti eu mesma. Era outra. Alguém a quem não conhecia e não queria conhecer. Quando cheguei a minha casa, a primeira atitude que tive foi olhar-me através do espelho e como uma cientista detalhista, examinei cada recanto de minha face para comprovar a mim mesma se merecia ser chamada de senhora. Sabem? Não descobri muitas rugas, ou então estou sendo condescendente comigo mesma, porém, uma fenda em volta da boca, o cansaço em volta dos olhos junto às marcas de anos de uso de óculos e alguns fios de cabelo branco me acusaram. Mesmo assim, perscrutei-me se somente esses contratempos faziam-me ser chamada de senhora. Então, iniciou-se uma luta entre o meu eu contra o meu outro eu. É claro que chegaria um dia em que eu teria que me entender com o espelho e com a palavra “senhora”, afinal, já estou com 53, apesar de que os números não fazem jus a minha aparência. Ora, não existe “senhora” como pronome pessoal. Segundo o Dicionário on-line de português, “senhora” significa “Tratamento cortês, dispensado a uma mulher casada e, em geral, a qualquer mulher de certa condição social”. Mas... Então por que estão me chamando de senhora? Não sou nenhuma celebridade, nem casada, minha condição social é discreta...  Sou apenas eu, e o pronome usado para uma pessoa se dirigir a mim, seria o pronome pessoal de terceira pessoa: você.  Que loucura! Eu não quero ser uma senhora só porque tenho uns fios brancos e algumas rugas ainda superficiais. As pessoas insistem em usar o tratamento “senhora” para quem já chegou nos “enta” (quarenta, cinquenta...). Tá, não sou mais uma menina, não sou jovem, e que eu não me iluda porque há mulheres que têm menos números que eu e aparentam ser muito mais senhoras; que eu não me iluda porque as pessoas dizem que eu não aparento ter a idade que tenho. Melhor aceitar que dói menos? Não, não sou de me conformar. Minha sobrinha mais velha já tem 25. Duas sobrinhas-netas. Prefiro ficar no aconchego de minha casa a sair para baladas. Praia, só depois das 3. Prefiro pousada a acampamento... Algumas dores na coluna, nas articulações... Aderi ao RPG e fisioterapia. Para a arte, sinto-me mais madura e mais seletiva e já não tenho mais paciência para assistir a tudo que chamam de arte. E falta de paciência é também sinal de velhice? A idiotice das pessoas me cansa. Cansam-me também a ignorância e a falta de vontade de aprender. Estou realmente ficando senhora? Estou sendo derrotada pelas evidências? Maturidade é um dos sinônimos para velhice? Estou me condenando cada vez mais. Os problemas de saúde me rondam, mas meu corpo é forte, no final, tudo não passa de alarmes falsos. O colesterol é meu Calcanhar de Aquiles, já não posso comer tudo que me dá prazer. Hoje em dia me vejo em roda de conversa com outras senhoras, discutindo taxas de glicose, colesterol, crises de gastrite, etc. Coisa que nunca imaginei participar; é como estar em um grupo de mães, esposas e donas de casa discutindo seus afazeres. Mas não me rendo.  Afinal, não está me faltando fôlego. Antigamente, corria menos que corro hoje. Nunca havia participado de competições, coisa que hoje faço com constância e prazer. Além de correr, também faço trilha. Tentando afastar a velhice. Senhora? Dizem que sorriso rejuvenesce. Então estou sorrindo mais. Não desisto de não permitir que a “senhora” me abduza, nem de não me resignar com a velhice chegando. Posso vigiar minha alimentação, expulsar a preguiça e sorrir, e assim envelhecerei dignamente. O fato é que exibo externamente uma idade de senhora e um físico saudável e firme, e uma alma jovem que ainda habita em mim e que não é compatível com a quantidade de anos que já vivi. Porque não é a aparência física que conta, mas sim a energia fundamental, que vem da alma e que nos mantém ativos, vivos, joviais, e que reflete no corpo. Então, vocês aí, não precisam me chamar de “senhora”, não é cabível ao meu estado de espírito. 


Por Denise Constantino

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

SAUDADE DA INFÂNCIA

Foi uma vez uma infância. Faz tanto tempo e ao mesmo tempo, não parece tanto tempo assim. Foi uma infância eclética: gostava de brincadeiras de menina, mas também me divertia muito com brincadeiras de moleque. As melhores lembranças daquela infância ficaram no quintal da casa da minha tia, no topo de um morro, de onde se tinha uma bela vista de toda a cidade. Irmãs, irmãos, primas e primos. Brincávamos juntos subindo em árvores, de esconde-esconde, caçando borboletas (naquela época ainda não pensávamos em preservar o meio ambiente), pulando riachos e fazendo de conta que éramos grandes exploradores da selva. Também brincávamos de cantigas de roda, quando o “Atirei o pau no gato” não passava de uma cantiga inocente; hoje é considerada apologia à violência. Mudaram os gatos, as crianças ou a consciência humana? Outra brincadeira que gostávamos era “Passarás, passarás, algum deles há de ficar...” Ah, como era difícil escolher! E hoje, já todos crescidos, muitas vezes nos perdemos na dúvida cruel, com pressões para escolher um lado, como se disso dependesse nossa sobrevivência. E o “Corre Cotia”? Para quem tinha muita energia e quem não tinha pernas vigorosas, era pego com lencinho na mão, ou então, se esborrachava no chão e sempre havia o lencinho para limpar o ferimento no joelho. Tudo tem uma relação: na brincadeira “Boca-do-Forno”, faz-se tudo o que o mestre mandar e até hoje não fazemos?
            Mais crescidos, as brincadeiras mudaram. Quem disse que crianças e jovens não gostam de frutas? Faziam logo uma “Salada mista”, onde entravam todas as frutas, e os mais gulosos sempre escolhiam “salada mista”, com risinhos vergonhosos e euforia de jovem que se aventurava em ações ainda proibidas, não se contentando apenas com um aperto de mão, um abraço ou um beijo no rosto.
            Minha infância foi muito marcante. Uma diversidade. Uma polivalência. Penso na infância de hoje, o quanto é diferente. Hoje, as crianças não brincam na terra, com os pés no chão, não têm muito acesso a árvores para escalá-las. Não precisam brincar de “Salada mista” para dar beijinhos naqueles ou naquelas que hoje se chamam “crush”. Hoje, já se dá beijos em plena infantilidade, com sabor de uma vida adulta precoce. Hoje, se os pais levam as crianças para uma fazenda, elas ficam ansiosas para voltar para a cidade. Sentem falta do asfalto, do wi-fi, de caçar Pokemóns. Eu parei naquela infância, sinto falta da natureza. Onde antes, pisávamos em terra, hoje pisamos em cimento. Claro que não podemos mais caçar borboletas e aprisioná-las, mas podemos caçá-las e observá-las, e já que estão cada vez mais raras, aprisionarmos a imagem delas em nossas mentes.
            O que realmente faltou naquela infância foram os livros. Livros eram artefatos desconhecidos naquela casa de família humilde, em que meus pais viviam do trabalho pesado e mal conheceram os cadernos. A paixão por livros nasceu espontaneamente, como um destino já desenhado e que só foi descoberto na adolescência, junto com a descoberta do mundo e do “Penso, logo existo”. Desde então, os livros foram adotados como companheiros fiéis. Hoje, quando leio um livro infantil, penso: “não tive livros na infância porque eu já vivia uma história de livros, eu estava dentro de um, que pode já ter sido escrito... ou ainda será.


Por: Denise Constantino

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O OBSERVADOR


Plumas selvagens, cheias de cor
destacam-se no opaco verde da mata
ele muito cansado, pousou
de frente para uma brilhante cascata.
Do alto da árvore contemplou
toda nossa vida transformar-se em nada
e as florestas morrerem queimadas
viu homens tão brutos sem amor
viu pais e filhos mergulharem em dor
viu a água secando sendo absorvida
viu a Terra chorar sendo destruída
viu a mulher abandonar o rebento
viu crianças fugidas em tormento
viu político governar como ladrão
e o ser humano perdendo-se na ambição.
E ali não descansou o observador
alçou voo com asas em riste
para onde não sabe se existe
um lugar onde se observe o amor.

Por Denise Constantino da Fonseca
Pintura: Rafaela Maia


A MINHOCA

No asfalto escaldante ia
A minhoca no verão de janeiro
Dobra e estica medindo o asfalto
Que maior parecia a cada arrasto
Já que carros iam e vinham
E a minhoca não viam.

Por: Denise Constantino

terça-feira, 9 de agosto de 2016

SOMOS SUBSTANTIVOS OU ADJETIVOS?

“Você conhece fulano”? “Não”. “Conhece sim! Fulano, aquele baixinho”. “Ah! Sim, conheço”. Esse diálogo não faz parte de um conto, é real. O fulano pode ser qualquer um, eu, você... Essa é uma cena que acontece, geralmente, quando não conseguimos lembrar o nome de alguém. O nome de alguém é substantivo próprio. E alguém é substantivo indefinido. O fato é que quando não conseguimos associar uma pessoa ao nome, mencionamos os atributos físicos: baixinho, gordinho, moreninho, estrábico, manco, barbudo, etc. Sempre achei que as pessoas, gramaticalmente falando, faziam parte da classe dos substantivos próprio, concreto, simples assim. E agora, corremos o risco de sermos taxados como adjetivo, e pior, de conotação pejorativa. Se for para ser adjetivo, pelo menos que seja algo mais estimulante e enobrecedor como: inteligente, gentil, trabalhador, esforçado, sensato, bonito, justo...

            Mas, essa associação tem uma explicação diante da conjuntura atual da humanidade. Estamos em um mundo de aparências, já dizia nosso eterno Platão. Julgamos as pessoas, o que já não é correto (ninguém pode julgar ninguém), pela aparência e pelo que ela tem e por isso, quando conhecemos alguém, o que mais nos chama a atenção e guardamos na mente são seus atributos, geralmente físicos e materiais. Seria demais exigir que nos lembremos dos nomes de todas as pessoas que conhecemos, mas também não é nada agradável associar adjetivos depreciativos a elas. Adjetivo é qualidade e qualidade, como o próprio nome já diz sugere algo positivo, como “qualidade total”, ISO 9000 e outros mais; excelências ambicionadas pelas grandes empresas. Somos pessoas, substantivo comum no plural, com nomes próprios e cada um com suas qualidades morais, que são as que garantem nossa evolução como seres humanos. As qualidades físicas são efêmeras, relativas e indiferentes, sejamos feios ou bonitos, todos fazemos parte da mesma imensidão que é o universo. 

Por Denise Constantino

PARA QUÊ SERVE A POLÍTICA

O termo “política” tem sua origem no grego “politiká”, que deriva de “polis”, designação do que é público. Política é a ciência de governar um Estado ou nação e é uma arte de negociação para compatibilizar interesses, ou seja, a arte de conciliar interesses. E quando nos referimos à política pública, esses interesses devem ser públicos, que quer dizer “do povo”.
            Aprofundando um pouco mais, o termo também pode designar um conjunto de regras e normas de uma determinada instituição, como por exemplo: a política de contratação de pessoas de uma empresa. Já Maquiavel, em seu livro “O Príncipe”, define política como “a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo”. O poder político define que alguém governa sobre o outro. Quem governa tem exclusividade do uso da força sobre grupos que se encontram sob sua influência. O poder político possui três características: não permitir que surja outra organização concorrente que exerça o poder que ele já detém; intervir de forma autoritária em todas as esferas para que as atividades destas vão somente de encontro aos fins desejados pelo governo e por fim, a capacidade de tomar decisões para toda a coletividade, a que chamamos de Universalidade. Esperamos que a política seja universal e o poder político exercido para garantir os direitos e interesses do povo. Para isso, elegemos vereadores, prefeitos, governadores, deputados e presidente da República. Por isso chamamos de interesse público e não de interesse individual do governante. Satisfazer o interesse público engloba muitos fatores, como a forma de governar do eleito. O fator primordial é não fazer com que a conotação positiva da palavra política se transforme em algo negativo, a que chamamos de politicagem. Satisfazer as ambições dos militantes partidários com cargos que requerem alto grau de competência, conhecimento técnico e especificidades, pode ser o início da derrocada de um governo que cativou o interesse público.
            A chamada “dança das cadeiras” é o clichê de toda troca de governo e o idealismo político de algumas pessoas já se confunde com a ambição por cargos de poder dentro dos órgãos públicos. A competência e o mérito são características não reconhecidas no dicionário da politicagem e por isso a máquina governamental passa a imagem de enferrujada, travada, ultrapassada e nunca se moderniza porque o ranço do serviço público está impregnado em todos os poros. Cito aqui uma metáfora: os cristãos, mesmo nas arenas, prestes a serem devorados pelos leões, não negaram Jesus e morreram todos, sacrificados. Esta citação parece um filme que se repete toda vez que o governo muda de mãos. E vale lembrar a leitura de três dos princípios (mais cabíveis nesse momento) básicos da administração pública: Impessoalidade, Moralidade e Eficiência.
            O povo brasileiro precisa de um governo, gestão, administração... competente, eficaz, onde os órgãos e cadeiras sejam ocupados por pessoas capazes, que queiram realmente trabalhar, independente de partido político, idealismo, partidarismo, raça, credo, etc. Lutemos para que os princípios administrativos, imprescindíveis no setor privado sejam também aplicados no setor público, o que geraria um lucro altamente benéfico para todos os interessados internos (o setor público em sua totalidade) e externos (nós, o público votante).
            Lembrando o Platonismo, enquanto essa urgente e necessária realidade do mundo ideal não é copiado nesse mundo sensível e isso só tarda devido a nossa própria irresponsabilidade, restam aos sobreviventes a humildade, a paciência, resignação, perseverança e capacidade de adaptar-se a mudanças, porque uma porta se fecha para uns, mas se abre para outros e depois acontece o inverso. É como ser o primeiro da fila e depois ter de voltar para o final. Um ciclo, apenas.

Texto: Denise Constantino


VIAJAR SEMPRE

Certo navegador disse que em casa mostramos nossos piores defeitos. Por isso, presume-se que devemos viajar sempre para amenizar nossos defeitos, praticar a tolerância e a paciência. Tolerância para com as pessoas mal educadas que gritam nos corredores do hotel e acordam todo mundo que poderia dormir um pouco mais. Com aqueles que fazem algazarra na piscina do hotel quando o que queremos é só relaxar ao sol, dar um mergulho e ficar em completa letargia. Paciência nas rodoviárias ou aeroportos com os atrasos. Paciência nas estradas durante congestionamentos e tantos “pare e siga”. Eu entendo o grande navegador. Em casa, temos a liberdade e a privacidade necessária para mostrarmos quem realmente somos, sem maquiagem, para expor nossas piores facetas, a sombra, conforme o pensamento Junguiano, nossa revolta, nossas mágoas e nossas angústias. Porque em casa temos de acordar cedo demais para ir trabalhar, não antes de cuidar dos pets, preparar o lanche do dia, viajar durante 40 minutos e passar o dia todo suportando pessoas com personalidades diversas e difíceis com quem somos obrigados a conviver boa parte do dia e que entram em choque com a nossa própria personalidade. E depois de um dia inteiro de trabalho, trancafiados em uma sala quadrada, de muito calor ou frio, porque em todo local de trabalho há uma discordância tradicional em relação à potência do ar condicionado, vamos embora para casa.  Passamos no supermercado, nos assustamos com os preços, enfrentamos a fila para comprar carne e depois a fila no caixa. Se estamos na fila de caixa rápido com 10 volumes e vemos alguém na frente com 20, temos de fingir tolerância ao próximo, fingir que não estamos vendo e que não somos cidadãos com direitos e deveres, fingir como a funcionária do caixa, tudo para evitar um bate-boca ou uma violência maior. E quando chegamos a nossa casa, temos de limpar os excrementos dos pets, trocar água e abastecer os portes de ração, e olhamos a bagunça e desarrumação na sala, que idealizamos como sala de revista de decoração. E vemos que o cesto de roupas sujas está cheio e que o chão está coberto de cabelos perdidos devido ao estresse, que a pia está lotada de louça suja e o fogão sujo de gordura e seu estômago reclama de fome. E depois de deixar tudo em ordem, catar as roupas depositadas em locais que não são cabides e ainda encontrar força para levar o cachorro para caminhar e aproveitar para também gastar umas calorias, pensando em ficar com a barriga “tanquinho” para o verão. E aí, depois de um banho e pensar no que vai comer, lembrar que há uma pilha de roupa para passar e o calor está insuportável para enfrentar um ferro. E antes do sono reparador, que já sabemos, não vai ser o bastante, caçar e eliminar os mosquitos sugadores do que restou do nosso sangue. Depois de tudo isso (e olha que nem citei filhos e marido) é quase impossível ser alguém sem defeitos.
            Sim, vamos viajar. E fazer de conta que essa vida não nos pertence. Que somos reis e rainhas, sermos servidos, desfrutar apenas. Entrar em um patamar de lerdeza e em um simpósio do NADA. Apenas não fazer nada e esquecer a vida que temos em casa, igual a de milhões de pessoas, geralmente mulheres. Façamos de conta que somos mais que especiais. Conheçamos outras pessoas, outras paisagens, contemplemos o mundo, as belezas da natureza, o tudo, fazendo nada. E quando esses momentos acabam é como viver a vida da Gata Borralheira, correr para a dura realidade... a nossa casa.

 P.S.- Em detrimento a toda essa divagação, voltar para casa sempre é bom, mesmo sendo maravilhoso viajar. Afinal, nosso teto é o nosso refúgio, onde nos sentimos protegidos e acolhidos e onde vivemos a plenitude da família.

Por Denise Constantino

CORAÇÃO DE MÃE

É incrível o instinto de mãe, até mesmo nos animais mais estúpidos ou ferozes. Eu não sou mãe, mas se fosse, meu instinto maternal também seria guerreiro. Há pouco tempo vi na televisão, em uma das poucas reportagens que não tinha sangue, corrupção e jogo de poder, um gato que adotou um macaquinho; mamãe urso salvando seu filhote de uma rede que estava sendo arrastada por um carro; a mãe que tirou o filho da boca de um jacaré e outros casos que nos fazem ainda crer que o amor não está escasso, porque diante de um mundo tão controverso, cruel e insano, mesmo um amor tão óbvio, esperado e compulsório, nos emociona. Mas, o que me motivou a escrever esta crônica, por incrível que pareça, não foram os humanos, mas os animais, em especial um tipo que venho observando nas proximidades de meu trabalho, à beira-mar (por favor, não sintam inveja) __ as aves. Estas, que parecem tão inofensivas, com suas coloridas e belas plumagens e cantos hipnotizantes, viram verdadeiras feras quando percebem alguém aproximar-se de suas crias, desde os ovos até a independência dos filhos. No momento, estou pesquisando um casal de quero-quero. A mãe está chocando os ovos embaixo de uma árvore, na areia da praia. É um local de fácil acesso para os frequentadores. O pai fica de guarda nas proximidades. Todos os dias, depois do almoço, pego minha cadeira e vou para a siesta, na praia, onde leio, escrevo, cochilo e observo os quero-quero. Quando me aproximo os quero-quero gritam como se estivessem sendo açoitados e ameaçam atacar. Não quero lhes fazer mal, só quero descansar. Eu não perturbo vocês e vocês não me perturbam. Falo como se eles pudessem me entender. De alguma forma, eles se aquietam. A mãe torna a deitar sobre os ovos e o pai fica de longe, vigiando meus movimentos com seus olhos vermelhos, olhos de quem passou a noite toda no bar, bebendo cachaça. Nos últimos dias eles não têm se alarmado tanto com a minha presença. Devo ter me tornado íntima. Adquiri um fortíssimo instinto de proteção aos bichinhos e se vejo alguém se aproximar, faço coro com os quero-quero: mantenham distância, não se aproximem, alarme, alarme, cuidado com os ovos.
Da minha sala de trabalho ouço-os gritando nervosos e logo me alarmo imaginando se alguém vai lhes causar algum mal. Minha sintonia com essas aves é tão grande, que talvez seja madrinha de seus filhos.

 Por: Denise Constantino

ORGULHO DE BRASILEIRA

Chorei quando vi uma parte bem sintetizada da abertura das Olimpíadas. Gisele Bündchen desfilando ao som de “Garota de Ipanema”. Todas as luzes, cores, efeitos especiais, a singeleza também... O 14 Bis decolando! Os atletas carregando bandeiras, desfilando alegres, orgulhosos por estarem representando seu país. Os atletas veteranos, que tanto nos proporcionaram alegrias no passado, Hortência e Gustavo Kuerten levando a tocha até Vanderlei Cordeiro de Lima, que por sua vez, acendeu a pira olímpica, iniciando, oficialmente a abertura dos Jogos Olímpicos do Brasil. Bateu um orgulho de ser brasileira. Um patriotismo que já estava esquecido há algum tempo no fundo do coração, encarcerado pela vergonha de viver em um país em que educação e saúde definham vertiginosamente, para não citar outros quesitos, e estamos assistindo a tudo isso cada vez mais doentes e descrentes, em um país em que aqueles em quem deveríamos confiar nos apunhalam pelas costas em prol do dinheiro e do poder. O patriotismo foi substituído pela revolta e repúdio a eventos como as Olimpíadas. Mas, assistindo à maravilhosa abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, que foi elogiada pela mídia mundial, veio até uma onda de lágrimas em meus olhos sensíveis e faz-me pensar como é bom sentir o sangue de brasileiro correr nas veias, vibrar, torcer, sentir a adrenalina, gritar por nossos jogadores ou competidores e como é catártico quando uma medalha é conquistada. Não podemos negar, é uma festa bonita e até mesmo aqueles que atacaram a tocha olímpica, se renderam ao espetáculo proporcionado a milhões de brasileiros. É histórica, tradicional, cultural; onde o esporte é enaltecido e comemorado. E o que o esporte nos proporciona? Saúde, bem-estar, conquistas, aprendizado, renúncia, como enfrentar desafios, como vencer obstáculos, superação. Tudo isso não é uma boa forma de educar nossos filhos, por exemplo? Pois bem, podemos aprender muito com o esporte. O esporte é algo do bem. Ele salva vidas mergulhadas na depressão, na doença e nas drogas, tira crianças ociosas das ruas. E as Olimpíadas ou a Copa do Mundo são uma forma de divulgação do esporte. Só há um problema no meio desse Bem, a mão podre do homem. A culpa não é das Olimpíadas ou do revezamento da tocha, que é um ato simbólico e histórico, que anuncia o início dos jogos. O erro está na má gestão de nosso país, a má gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros. O erro está na ambição desmedida de nossos governantes e empresários, que não se contentam com seus salários altíssimos, que querem sempre mais, que se corrompem e corrompem perdidamente, sem medir consequências.
            Repito aqui, saibamos escolher nossos governantes em meio ao ninho peçonhento de políticos que nos cercam a cada quatro anos para sugar tudo o que temos de bom em nosso lindo e rico país. Só assim, poderemos nos regozijar de ser brasileiros e vibrar como patriotas, festejar sem culpa ao ver nossos atletas nos representando bravamente em uma competição.


Por: Denise Constantino – 05/08/16

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A CHAMA QUE NÃO SE ACENDEU

            A chama olímpica evoca a lenda de Prometeu que teria roubado o fogo de Zeus para entregar aos mortais. Como consequência de seu ato, Zeus, temendo que ele ficasse mais poderoso que os deuses, puniu-o colocando-o amarrado a uma rocha por toda a eternidade, enquanto uma grande águia comia seu fígado, que crescia e era comido novamente, todos os dias.
Foi a partir dos jogos de verão em 1936, que ocorreu o revezamento de atletas para transportar a tocha com chama. A partir de então, manteve-se a tradição de transportar a tocha olímpica com um revezamento por terra até a cidade-sede dos jogos e na cerimônia de abertura, acende-se a pira olímpica, que se mantém acesa até o encerramento das competições.
            A descoberta do fogo na pré-história foi fundamental para o homem iniciar seu caminho rumo à civilização, o que o diferenciou dos outros animais. O fogo proporciona calor, luz e prepara alimentos e bebidas. Além disso, na antiguidade, o fogo era considerado sagrado por muitos povos que o cultuavam como símbolo do sol, que por sua vez, seria o símbolo do Ser Supremo. Basta nos lembrarmos do culto ao fogo nos lares (através de fogueiras); nas noites de São João; nos rituais de diversos povos e religiões que acreditavam que o fogo purifica, como por exemplo: os Taoístas, os Hindus, os Zoroastras, as tribos árabes, os romanos, os gregos, os Celtas e outros. O fogo é símbolo de purificação e regeneração; queima e consome; faz renascer e também desaparecer. Por isso, durante a inquisição, queimavam-se os considerados inimigos da igreja, para purificar sua alma. Ainda citando a importância do simbolismo do fogo, citamos Fênix, que sem o fogo não poderia renascer das cinzas.
            Essa longa introdução para explicar a simbologia do fogo e seu papel nos jogos olímpicos é somente para contar a passagem da tocha olímpica por Angra dos Reis, no dia 27 de julho de 2016, que deixou o nome do município nas manchetes dos jornais impressos e eletrônicos. Um grande fiasco. Fiasco esse que começou quando o Brasil foi escolhido e aceitou ser o país-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O mal deveria ter sido cortado na raiz. Não foi, e o que se viu em Angra dos Reis foi uma encenação  patética que não deu certo. Os brasileiros se declaram contra o desfile da tocha, mas alguns se candidataram para carregá-la, com suas histórias de vida, de luta, de resistência, de resiliência, e um número expressivo da população saiu de suas casas, deixaram de assistir novelas, somente para ver o desfile triunfal. Grupos se formaram para manifestarem o repúdio ao evento, que está roubando ou raspando as economias dos cofres públicos municipais, cuja gestão está mal na fita, devendo salários aos funcionários e pagamentos aos fornecedores. Até aí tudo bem, todos têm direito de expressar suas contrariedades. Mas, no meio desses trabalhadores revoltados, encontram-se também aqueles que roubam a cena muito mais que esses devotados trabalhadores. Não roubam a cena somente porque usam a camisa em lugar pouco comum, no rosto, mas pelas atitudes violentas e de vandalismo que cometem e levam pessoas inocentes a um turbilhão de medo e insegurança. Tudo começou na saída da tocha, no bairro Japuíba. Quebra-quebra. Batalhão de choque da polícia. Bombas de efeito moral, gás lacrimejante, correria, tumulto. Olhos ardendo. Ônibus depredados. Enfrentamento. E o sonho daqueles que se regozijariam levando a tocha por 200 metros, foi por fogo (ops... água) abaixo. A tocha foi apagada e junto com os escolhidos, acuados, seguiu de ônibus até o centro da cidade. Na Praia do Anil, destino final, onde se acenderia a pira, o cenário não foi diferente. Um amontoado de elementos correndo, fogos estourando e olhos ardendo. Quando um grupo corre, ninguém quer esperar para perguntar por quê. Todos correm juntos. E assim começou uma correria desenfreada. Vi mães aflitas para protegerem seus filhos. Vi crianças chorando. Vi pessoas se machucando ao correr para um lugar mais seguro. E o desfecho da tocha olímpica foi deprimente. Não acenderam a pira. A chama não foi acesa. Prometeu nos entregou o fogo e o apagamos, em vez de cultuarmos. Atos como os que vi no dia 27 de junho estão longe de serem atos civilizados. O que não nos damos conta é que há muito tempo, mesmo antes da chama olímpica passar por aqui, nosso fígado já vem sendo devorado todos os dias.
 Tudo isso parece um mau presságio para os dias seguintes, quando os jogos realmente começarem e toda a atenção estará mais precisamente sobre a cidade do Rio de Janeiro. Ameaças terroristas. Agravamento da crise econômica após as Olimpíadas... Tudo que uma chama poderia consumir? O que precisaremos, com certeza, é renascer das cinzas. Das cinzas dessa tocha apagada. Das cinzas inexistentes da chama que não foi acesa em Angra dos Reis. E já que para renascer precisamos do fogo, que possamos criar nosso próprio fogo, não da forma pré-histórica, mas com o calor da paixão, da esperança e da sensatez, para que possamos fazer melhor nossas escolhas, inclusive a de nossos governantes. Assim, quando um evento do porte do revezamento da tocha olímpica acontecer, possamos ter a oportunidade de comemorar e ter orgulho de nosso país em vez de nos entregarmos ao afã da revolta.


Por: Denise Constantino