Quando começaram a me chamar de
senhora, assustei-me. Não me senti eu mesma. Era outra. Alguém a quem não
conhecia e não queria conhecer. Quando cheguei a minha casa, a primeira atitude
que tive foi olhar-me através do espelho e como uma cientista detalhista,
examinei cada recanto de minha face para comprovar a mim mesma se merecia ser
chamada de senhora. Sabem? Não descobri muitas rugas, ou então estou sendo
condescendente comigo mesma, porém, uma fenda em volta da boca, o cansaço em
volta dos olhos junto às marcas de anos de uso de óculos e alguns fios de
cabelo branco me acusaram. Mesmo assim, perscrutei-me se somente esses
contratempos faziam-me ser chamada de senhora. Então, iniciou-se uma luta entre
o meu eu contra o meu outro eu. É claro que chegaria um dia em que eu teria que
me entender com o espelho e com a palavra “senhora”, afinal, já estou com 53,
apesar de que os números não fazem jus a minha aparência. Ora, não existe
“senhora” como pronome pessoal. Segundo o Dicionário on-line de português,
“senhora” significa “Tratamento
cortês, dispensado a uma mulher casada e, em geral, a qualquer mulher de certa
condição social”. Mas... Então por que estão me chamando de senhora?
Não sou nenhuma celebridade, nem casada, minha condição social é
discreta... Sou apenas eu, e o pronome
usado para uma pessoa se dirigir a mim, seria o pronome pessoal de terceira
pessoa: você. Que loucura! Eu não quero
ser uma senhora só porque tenho uns fios brancos e algumas rugas ainda
superficiais. As pessoas insistem em usar o tratamento “senhora” para quem já
chegou nos “enta” (quarenta, cinquenta...). Tá, não sou mais uma menina, não
sou jovem, e que eu não me iluda porque há mulheres que têm menos números que
eu e aparentam ser muito mais senhoras; que eu não me iluda porque as pessoas
dizem que eu não aparento ter a idade que tenho. Melhor aceitar que dói menos? Não,
não sou de me conformar. Minha sobrinha mais velha já tem 25. Duas
sobrinhas-netas. Prefiro ficar no aconchego de minha casa a sair para baladas.
Praia, só depois das 3. Prefiro pousada a acampamento... Algumas dores na
coluna, nas articulações... Aderi ao RPG e fisioterapia. Para a arte, sinto-me
mais madura e mais seletiva e já não tenho mais paciência para assistir a tudo
que chamam de arte. E falta de paciência é também sinal de velhice? A idiotice
das pessoas me cansa. Cansam-me também a ignorância e a falta de vontade de
aprender. Estou realmente ficando senhora? Estou sendo derrotada pelas
evidências? Maturidade é um dos sinônimos para velhice? Estou me condenando
cada vez mais. Os problemas de saúde me rondam, mas meu corpo é forte, no
final, tudo não passa de alarmes falsos. O colesterol é meu Calcanhar de
Aquiles, já não posso comer tudo que me dá prazer. Hoje em dia me vejo em roda
de conversa com outras senhoras, discutindo taxas de glicose, colesterol,
crises de gastrite, etc. Coisa que nunca imaginei participar; é como estar em
um grupo de mães, esposas e donas de casa discutindo seus afazeres. Mas não me rendo.
Afinal, não está me faltando fôlego. Antigamente,
corria menos que corro hoje. Nunca havia participado de competições, coisa que
hoje faço com constância e prazer. Além de correr, também faço trilha. Tentando
afastar a velhice. Senhora? Dizem que sorriso rejuvenesce. Então estou sorrindo
mais. Não desisto de não permitir que a “senhora” me abduza, nem de não me resignar
com a velhice chegando. Posso vigiar minha alimentação, expulsar a preguiça e
sorrir, e assim envelhecerei dignamente. O fato é que exibo externamente uma
idade de senhora e um físico saudável e firme, e uma alma jovem que ainda
habita em mim e que não é compatível com a quantidade de anos que já vivi. Porque
não é a aparência física que conta, mas sim a energia fundamental, que vem da
alma e que nos mantém ativos, vivos, joviais, e que reflete no corpo. Então,
vocês aí, não precisam me chamar de “senhora”, não é cabível ao meu estado de
espírito.
Por Denise Constantino
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