É incrível o instinto de mãe,
até mesmo nos animais mais estúpidos ou ferozes. Eu não
sou mãe, mas se fosse, meu instinto maternal também
seria guerreiro. Há pouco tempo vi na televisão, em uma das poucas reportagens que não
tinha sangue, corrupção e jogo de poder, um gato que adotou um
macaquinho; mamãe urso salvando seu filhote de uma rede que estava sendo
arrastada por um carro; a mãe que tirou o filho da boca de um jacaré
e outros casos que nos fazem ainda crer que o amor não está
escasso, porque diante de um mundo tão controverso, cruel e insano, mesmo um
amor tão óbvio, esperado e compulsório,
nos emociona. Mas, o que me motivou a escrever esta crônica, por incrível
que pareça, não foram os humanos, mas os animais, em
especial um tipo que venho observando nas proximidades de meu trabalho, à
beira-mar (por favor, não sintam inveja) __ as aves. Estas, que
parecem tão inofensivas, com suas coloridas e belas plumagens e
cantos hipnotizantes, viram verdadeiras feras quando percebem alguém
aproximar-se de suas crias, desde os ovos até a independência dos filhos. No momento, estou
pesquisando um casal de quero-quero. A mãe está chocando os ovos embaixo de uma árvore,
na areia da praia. É um local de fácil acesso para
os frequentadores. O pai fica de guarda nas proximidades. Todos os
dias, depois do almoço, pego minha cadeira e vou para a
siesta, na praia, onde leio, escrevo, cochilo e observo os quero-quero. Quando
me aproximo os quero-quero gritam como se estivessem sendo açoitados
e ameaçam atacar. “Não quero lhes fazer mal, só
quero descansar. Eu não perturbo vocês e vocês
não
me perturbam.” Falo como se eles pudessem me entender. De alguma forma, eles
se aquietam. A mãe torna a deitar sobre os ovos e o pai fica de longe, vigiando
meus movimentos com seus olhos vermelhos, olhos de quem passou a noite toda no
bar, bebendo cachaça. Nos últimos dias eles não têm
se alarmado tanto com a minha presença. Devo ter me tornado íntima.
Adquiri um fortíssimo instinto de proteção aos bichinhos e se vejo alguém
se aproximar, faço coro com os quero-quero: “mantenham distância, não
se aproximem, alarme, alarme, cuidado com os ovos.”
Da minha sala de trabalho ouço-os gritando nervosos e logo me alarmo
imaginando se alguém vai lhes causar algum mal. Minha sintonia
com essas aves é tão grande, que talvez seja madrinha de
seus filhos.
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