terça-feira, 9 de agosto de 2016

CORAÇÃO DE MÃE

É incrível o instinto de mãe, até mesmo nos animais mais estúpidos ou ferozes. Eu não sou mãe, mas se fosse, meu instinto maternal também seria guerreiro. Há pouco tempo vi na televisão, em uma das poucas reportagens que não tinha sangue, corrupção e jogo de poder, um gato que adotou um macaquinho; mamãe urso salvando seu filhote de uma rede que estava sendo arrastada por um carro; a mãe que tirou o filho da boca de um jacaré e outros casos que nos fazem ainda crer que o amor não está escasso, porque diante de um mundo tão controverso, cruel e insano, mesmo um amor tão óbvio, esperado e compulsório, nos emociona. Mas, o que me motivou a escrever esta crônica, por incrível que pareça, não foram os humanos, mas os animais, em especial um tipo que venho observando nas proximidades de meu trabalho, à beira-mar (por favor, não sintam inveja) __ as aves. Estas, que parecem tão inofensivas, com suas coloridas e belas plumagens e cantos hipnotizantes, viram verdadeiras feras quando percebem alguém aproximar-se de suas crias, desde os ovos até a independência dos filhos. No momento, estou pesquisando um casal de quero-quero. A mãe está chocando os ovos embaixo de uma árvore, na areia da praia. É um local de fácil acesso para os frequentadores. O pai fica de guarda nas proximidades. Todos os dias, depois do almoço, pego minha cadeira e vou para a siesta, na praia, onde leio, escrevo, cochilo e observo os quero-quero. Quando me aproximo os quero-quero gritam como se estivessem sendo açoitados e ameaçam atacar. Não quero lhes fazer mal, só quero descansar. Eu não perturbo vocês e vocês não me perturbam. Falo como se eles pudessem me entender. De alguma forma, eles se aquietam. A mãe torna a deitar sobre os ovos e o pai fica de longe, vigiando meus movimentos com seus olhos vermelhos, olhos de quem passou a noite toda no bar, bebendo cachaça. Nos últimos dias eles não têm se alarmado tanto com a minha presença. Devo ter me tornado íntima. Adquiri um fortíssimo instinto de proteção aos bichinhos e se vejo alguém se aproximar, faço coro com os quero-quero: mantenham distância, não se aproximem, alarme, alarme, cuidado com os ovos.
Da minha sala de trabalho ouço-os gritando nervosos e logo me alarmo imaginando se alguém vai lhes causar algum mal. Minha sintonia com essas aves é tão grande, que talvez seja madrinha de seus filhos.

 Por: Denise Constantino

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