terça-feira, 19 de setembro de 2017

OS DIAS ERAM ASSIM

Ontem assisti ao último capítulo da super série global Os Dias Eram Assim. Chorei horrores. Pela cena de Renato e Alice, grisalhos, declarando amor eterno ao som de “Nossa Canção”, de Roberto Carlos; pelo regozijo e felicidade alcançados a duras penas pela família de Vera (Cássia Kiss); pela morte de Nanda (Júlia Dalávia); enfim... Os críticos dizem que a série não foi grande coisa, apesar de maior audiência comparada às outras exibidas no mesmo horário; que teve muitos clichês; que foi muito didática... Não importa. Acho que o didatismo histórico teve bom caimento para conhecermos ou relembrarmos aqueles momentos sombrios da ditadura. Mas, minha intenção não é criticar positiva ou negativamente a série, e sim divagar sobre a trilha sonora, maravilhosa. Fez-me lembrar de minha juventude embalada ao som de Legião Urbana, Marina Lima, Secos & Molhados, Chico Buarque, Elis Regina e outros. Arrepiava-me toda quando ouvia os primeiros acordes de “Eu Não Sei Dançar” e “Sangue Latino”. Ai!

Na verdade, o ponto que quero mencionar, relacionado à trilha sonora é o mote das letras compostas naquela época, de revolução, de luta e contrariedade ao governo vigente, ditatorial e arbitrário. Letras que eram uma manifestação velada, porém irônica e debochada dos artistas. Agora façam um paralelo com os dias atuais. Não consigo entender por que tanto silêncio. Até mesmo os artistas se calaram. As músicas já não são mais as mesmas. Não há músicas de engajamento, de repúdio, de protesto; não há participação política. E olha que naquela época o medo reinava e mesmo assim não calou as vozes artísticas. Será esse silêncio o responsável pela disseminação da pobreza das letras que povoam as mentes de hoje? O conteúdo crítico e subversivo deu lugar à erotização e à apologia ao vício, cujas letras são fáceis de decorar e são mastigadas como chiclete. A razão disso é a falta de artistas de qualidade, que escrevam boas letras ou os ouvidos ficaram menos exigentes e deram uma guinada, alavancando o botão do ritmo balançante erótico, não importando a letra banal e carente de conteúdo? Eu não tenho a resposta, talvez esse assunto renda várias teses. Precisa ser estudado. Sim, eu sei que o tempo passou, que as pessoas são outras, mas a ordem certa das coisas não é com o passar do tempo haver evolução? Revolução? Bem, o que consigo enxergar é apenas retrocesso. Em todos os sentidos. Que o Cosmos nos ajude.  

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