terça-feira, 13 de setembro de 2016

A MULHER DE PÉ


             Eu juro que ela existiu. Juro que a conheci.
                        Tudo começou quando ela completou cinquenta anos. Fez questão de dar uma festa de arromba e convidou todos os parentes e amigos. Até aquele momento, sentia-se bem fisicamente, saudável, ainda com vigor para muitas tarefas. Passaram-se seis meses e os entraves começaram. Toda vez que ela se sentava, ficava incomodada. Virava de um lado, virava de outro; mexia-se mais do que peixe fora d’água. Levantar-se tornou um tormento, um sofrimento, os pés doíam quando tocavam o chão; os quadris se entortavam; as pernas não obedeciam; as costas se encurvavam de dor. Foi ao médico e os exames não acusaram nada. Diziam que era normal para a idade, apesar de que hoje em dia, uma pessoa com cinquenta anos ainda tivesse muito o que viver.    Então, resolveu mudar de atitude por ela mesma. Não se sentou mais. Passou a viver de pé ou deitada, para dormir. Como? Simples: fazia tudo de pé. Quando ia à igreja, assistia à missa em pé. Quando utilizava ônibus... viajava em pé. Espera em consultório médico... em pé. Trabalhava em pé. Nas palestras... de pé.
__ Sente-se, senhora. Há lugar disponível.
__ Não, obrigada. Prefiro ficar de pé.
            Quando ela começou a se sentir incomodada também de pé, resolveu caminhar. Caminhava sempre: de manhã, à tarde e à noite. Só se deitava para dormir. Só parava para se alimentar e ir ao banheiro.
            Quando caminhar passou a incomodá-la, começou a correr. Corria de manhã, à tarde e à noite. Participava de todas as maratonas e corridas de competição, mas não para ganhar, apenas para estar correndo.

            E quando não podia mais ficar de pé, nem caminhar e nem correr, ela finalmente se deitou e nunca mais se levantou.

Por: Denise Constantino

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