Tudo
começou quando ela completou cinquenta anos. Fez questão de dar uma festa de
arromba e convidou todos os parentes e amigos. Até aquele momento, sentia-se
bem fisicamente, saudável, ainda com vigor para muitas tarefas. Passaram-se
seis meses e os entraves começaram. Toda vez que ela se sentava, ficava
incomodada. Virava de um lado, virava de outro; mexia-se mais do que peixe fora
d’água. Levantar-se tornou um tormento, um sofrimento, os pés doíam quando
tocavam o chão; os quadris se entortavam; as pernas não obedeciam; as costas se
encurvavam de dor. Foi ao médico e os exames não acusaram nada. Diziam que era
normal para a idade, apesar de que hoje em dia, uma pessoa com cinquenta anos
ainda tivesse muito o que viver. Então, resolveu mudar de atitude por ela mesma. Não se sentou mais. Passou a
viver de pé ou deitada, para dormir. Como? Simples: fazia tudo de pé. Quando ia
à igreja, assistia à missa em
pé. Quando utilizava ônibus... viajava em pé. Espera em
consultório médico... em
pé. Trabalhava em pé. Nas palestras... de pé.
__ Sente-se, senhora. Há lugar
disponível.
__ Não, obrigada. Prefiro ficar
de pé.
Quando ela começou a se sentir
incomodada também de pé, resolveu caminhar. Caminhava sempre: de manhã, à tarde
e à noite. Só se deitava para dormir. Só parava para se alimentar e ir ao
banheiro.
Quando caminhar passou a incomodá-la, começou a correr. Corria de manhã, à tarde e à noite. Participava
de todas as maratonas e corridas de competição, mas não para ganhar, apenas
para estar correndo.
E quando não podia mais ficar
de pé, nem caminhar e nem correr, ela finalmente se deitou e nunca mais se
levantou.
Por: Denise Constantino
Por: Denise Constantino
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